quarta-feira, 23 de abril de 2008

Passagem para a luz



















Estava lá, deitada naquela cama de hospital, em um box da UTI. Pouco restava dela ou quase nada, um fiozinho de vida regulada pelos aparelhos, sumia a cada olhar.

Será que me ouvia????? Será que sentia o calor da família, do filho mais velho à bisneta mais nova, revezando???? Acho que não.

Sofreu muito, muito, mas não ficou um instante sequer sozinha, todos estávamos ao seu lado. Sem falar, sem tocar, sem ao menos nos ver, despediu-se de todos.

Sua vida rodeada de muita gente, demonstrava que o medo da solidão era constante e intenso , e desse medo um pouco ficou comigo.

Foi feliz ao longo da vida, alegre, amada pelo marido, filhos, netos, mimada pelos irmãos, em especial por duas irmãs que doaram suas próprias vidas em favor dela, dos filhos e amada pelos sobrinhos e afilhados. Apesar dos espinhos, dos caminhos tortuosos, das escolhas por vezes erradas , das dificuldades, da luta, da raiva pelas injustiças, essa... era a vida que fluia, essa... foi a vida que escolheu.

Alí, naquele leito, naquele momento, nada pude fazer, nem chorar, para não enfraquecer sua passagem, seu caminho para a luz.

Ela se foi, naquela quinta-feira de agosto, numa tarde aguourenta. Nos deixou para sempre.

Sinto a sua falta, a falta da ajuda, da presença, da voz, do zêlo, do amor imenso.

Mamãe, lembra dos dias das mães lá em Venceslau????? Voce sabia!!!! Sabia que a fileira de filhos, cantando e tocando, ia aparecer naquela porta do quarto, para presenteá-la, dessa forma não arredava o pé da cama.
Todos os anos, proporcionávamos essa alegria tão singela, mas carregada de emoção e amor.

Saudades... sua única filha

sábado, 19 de abril de 2008

As mãos do protetor














Vasculho meu coração, minha mente, tentando encontrar um sinal de entendimento para o caso Isabella. Nada...nada, não consigo formar justificativas, motivos, sem pensar nas mãozinhas indefesas, naquele corpinho pequenino, sendo jogado no vazio, como um saco de lixo, pelo próprio pai, para salvaguardar alguem.
É monstuoso demais, é um desamor total, se for comprovada a culpa desse casal. É imperdoável.
Sei que a mídia, torturou em demasia a população, e sabemos do seu interesse, mas...por outro lado se assim não fôsse, esse caso ficaria impune, sem solução, e os assassinos livres, leves e soltos.

Espero que os culpados, sejam eles quem for, confessem, para que a alminha dela encontre paz.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O presente














Cansada das notícias chocantes e trágicas da morte da menina Isabella, fatos divulgados pelo imprensa, de forma exaustiva e torturantes. Da alienação da mãe, ou da mãe estar sob efeito de remédios fortes, da possibilidade de ser o próprio pai o assassino, ou da precipitação de julgar e condenar inocentes, prejudicando de forma irreparável suas vidas, fiquei atônita, confusa, e aaaiiiii... não aguento mais!!!!!??????

Reservei a mim mesma, o direito de esquecer o presente, mergulhar no passado alegre, e não tão distante.
Lá vou eu...

Faz uns 22 anos ( parece que foi ontem), se não me falha a memória.

Início de maio, próximo ao dia das mães, uma loja de jóias, famosa na cidade, divulgou uma promoção, de dar água na boca.

Olhei os folders , analisei, fui conferir, e comentei em casa. Estávamos passando por um período de adaptação na cidade, empregos novos, filhos adolescentes ainda com saudades do Rio, momentos delicados e difíceis.

Vivinha, embora muito nova, resolveu trabalhar e não aceitou um não como resposta. E nessa condição de trabalhadora, com salário mensal a receber, falou cheia de pose:

_ Vou comprar esse anel para voce.

Pulei, rolei, gritei, e pensei no anel. Fui à loja, para vê-lo. O "chuveiro de brilhantes" não era grande, mas ficou lindo e maravilhoso no meu dedo. Ao experimentá-lo, passado a euforia, fiquei pensando...pensando... quantos meses ela precisaria trabalhar, para pagar aquela jóia. Era tão nova, tão menina ainda, não era justo tamanho sacrifício. Deixei o chuverinho no mesmo lugar, e voltei para casa.

_ Não tive coragem, minha filha, o anel é bonito mais não é necessário, não é nenhuma sangria desatada, esquece.

_ Esquece não???? o papai vai me ajudar a pagar. Esse presente é seu.

Pulei, rolei, gritei... no dia seguinte o anel já estava no lugar de direito, no meu dedo.

Uma filha que realiza os sonhos da mãe.
Esta é a MINHA FILHA .